quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Uma atitude política - O poder e a esquerda festiva

O artigo abaixo de Eduardo Guimarães mostra qual a atitude do governo do PT, e isto vale tanto para o Governo Lula quanto Dilma.
 
A decisão e a prática política do partido é a de apresentar-se como um bom administrador o estado.
 
Apenas um bom administrador do sistema burguês elitista de governo do Brasil.
 
E de fato tem conseguido isto.
 
Um bom administrador não vai fazer uma reforma ou reestruturação política mais profunda, apenas administrar bem as contas e a estabilidade. Fazer nosso capitalismo um pouco mais produtivo, com menos instabilidade e um pouquinho menos de desigualdade.
 
No final do ciclo estará satisfeito de entregar tudo funcionando para os adminstradores conservadores tradicionais.
 
Imaginem daqui a 3 anos:
- Estaremos com uma proporção de dívida sobre o PIB de 35%(a menor da história) com vasta capacidade de novo endividamento .
- Teremos reservas de 400 bilhões de dólares, com enorme possibilidade de um novo governo conservador armar um ataque especulativo atrás do outro e liquidar tudo isto num upa.
- O Pre-Sal vai estar maduro, voltar o regime de concessão onde o concessionário paga só 5% de imposto e privatizar as reservas da Petrobras vai gerar comissionamentos e caixa gigantesco.
 
Sem uma reestruturação no perfil político social do Brasil em um futuro próximo veremos o PT fazer rico o Estado Brasileiro para em seguida entregar tudo para os partidos conservadores fazerem a maior pilhagem da história do país, superando a privataria de FHC.
 
Quem está tomando corpo político é o PSD, um bando de milhonários de extrema direita. Além da onda anticorrupção alienante e que derruba um ministro atrás do outro, junto com a imagem do governo.
 
Ser um administrador competente foi a opção dos partidos socialistas e sociais democratas da Europa, nada de revolução, nem reformas produndas, nem umas reforminhas, daí convencemos a população de que precisamos de um governo de esquerda para que? Para administrar bem o capitalismo? Então melhor entregar para os verdadeiros capitalistas.
 
 
 
 
O poder e a esquerda festiva

Eduardo Guimarães

 <http://www.blogcidadania.com.br/wp-content/uploads/2011/11/titanic.png>
http://www.blogcidadania.com.br/wp-content/uploads/2011/11/titanic.png

Leio postagem do jornalista Paulo Henrique Amorim em que ele fornece duas
informações cruciais porque conduzem a uma reflexão que já passou da hora de
ser feita. PH, que sabe das coisas, diz que o governo Dilma não fará "ley de
medios" alguma porque acredita que a tecnologia dará conta do recado. São,
portanto, duas informações. Vamos a elas.

Não chegará a ser surpresa se o governo Dilma ou o Congresso não propuserem
uma lei da mídia de verdade, como a da Argentina, a dos Estados Unidos ou a
da França, entre tantas outras. Um governo que não consegue nem impedir que
a mídia lhe derrube um ministro por mês certamente não teria força para
aprovar uma lei que a mesma mídia não quer.

A outra informação é a de que o governo, simplificando a explicação, aposta
na fusão da tevê e do rádio com a internet e na entrada das teles (empresas
de telefonia) na produção de conteúdo. Com o tempo, os meios impressos e
eletrônicos terão que migrar para a internet. Então, serão obrigados a
disputar público com empresas que têm muito mais recursos.

Nenhum outro país sul-americano que elegeu governo oriundo da esquerda está
esperando que o fim do monopólio da direita nas comunicações lhe caía no
colo. Isso porque a esquerda brasileira difere completamente da que há em
países como Argentina, Bolívia, Equador, Paraguai, Uruguai ou Venezuela.

Nesse contexto, Argentina, Bolívia, Equador e Venezuela são os países da
região que enfrentaram as lutas mais duras para aprovar uma "ley de medios".
Por que os governos desses países optaram por não ficar esperando que a
tecnologia acabasse com o oligopólio nas comunicações? Não seria melhor do
que enfrentarem até tentativas de golpe por terem desafiado o principal
sustentáculo da direita no Terceiro Mundo?

Hugo Chávez, o casal Kirchner, Evo Morales, Rafael Correa sabem que a
influência desses impérios de comunicação entranhou-se nas sociedades
latino-americanas e que, por isso, eles acabariam se compondo com as teles e
migrando para as novas plataformas. Por isso não ficaram esperando a
democratização da comunicação cair do céu.

O Brasil, porém, está preferindo o auto-engano. Isso ocorre porque, à
diferença da esquerda de outros países que finalmente elegeram governos
progressistas, a centro-esquerda brasileira se deixou amaciar, amansar e, em
boa medida, cooptar pelo capital e suas delícias.

Já a esquerda mais radical (no bom sentido), que mantém seus dogmas
intocados tanto aqui quanto nos países que adotaram projetos de
centro-esquerda baseados em crescimento econômico fomentado pelo Estado e em
intensa inclusão social, não é opção por acalentar dogmas incompatíveis com
a realidade global contemporânea.

Na América do Sul progressista que vai se desenhando, portanto, o Brasil é o
único país em que a centro-esquerda governa, mas no qual quem manda é a
direita.

Tudo decorre, por aqui, da inevitável aproximação da centro-esquerda com os
setores "pragmáticos" da direita que se aliam até ao diabo para se manter
próximos ao poder. Com governos de coalizão como o atual ou o anterior, nos
quais coube e cabe um partido de centro-direita como o PMDB, a
centro-esquerda petista decidiu relaxar e gozar.

Essa esquerda acomodada e festiva se perdeu em autocongratulações e
convescotes, no desfrute da fartura do poder e de tudo que o dinheiro
público pode comprar. Acabou, assim, por ceder as ruas à direita –hoje,
vemos a situação inusitada de a direita estar conseguindo pôr mais gente na
rua do que a esquerda.

Por conta disso – e à diferença de outros países sul-americanos governados
pela esquerda –, nenhuma reforma estrutural de verdade foi feita no Brasil
nesses quase dez anos de governo do PT. Ou seja: se um governo de direita
voltar ao poder, desmontará facilmente todos os avanços sociais logrados até
aqui.

Bolsa Família, Prouni, exploração do Pré Sal, fomento do crescimento pelo
Estado, tudo pode virar pó em questão de meses se a direita voltar ao poder.
Políticas públicas concentradoras de renda podem voltar a ser aplicadas,
programas sociais podem ser desinflados.

Enfim, se o PSDB volta ao poder em 2014, tudo o que os setores que estão
ascendendo socialmente lograram nos últimos anos pode ser perdido
rapidamente.

Falemos do Pré Sal, por exemplo. Muitos devem ter lido as revelações do
Wikileaks sobre as reuniões entre José Serra e as petroleiras estrangeiras
durante as eleições do ano passado e as promessas que ele fez de mudar o
regime de exploração do Pré Sal de partilha para concessão. Em 2015, se esse
ou qualquer outro tucano for o presidente, a mudança ocorrerá.

Detalhe: se o modelo tucano de concessão for usado na exploração do pré Sal,
os estrangeiros novamente se fartarão com o patrimônio público brasileiro
como fizeram na época da privataria. As petroleiras alienígenas sugarão todo
o petróleo e nos darão uma gorjeta por deixarmos que seja tirado daqui.

Em vez de lutar pela diluição da capacidade da direita de falar sozinha na
mídia, o que tornaria o jogo eleitoral mais equânime, a centro-esquerda
brasileira parece acreditar em alguma força mística que a manterá no poder.
Despreza o fato de que uma eventual redução no nível de atividade econômica
colocará fim à sensação de bem-estar que vem mantendo o PT no poder.

Não que o Brasil esteja sendo mal governado. Dilma Rousseff é uma boa
gerente. Está cheia daquelas boas intenções das quais o inferno está cheio.
Uma delas é a de não conflagrar o país politicamente, adotando tática de
distensão que a está levando a ceder e ceder e ceder politicamente, ainda
que esteja gerenciando o governo com a competência que a consagrou.

Todavia, o Brasil não tem mais um líder político – tem uma gerente
competente, honesta e bem-intencionada, mas apenas uma gerente. Sem
liderança política, o povo se despolitiza. Despolitizado, torna-se presa
fácil para o canto da sereia reacionário que vai turvando o debate público
com a lente conservadora.

Enquanto o venezuelano mais humilde conhece hoje, de trás para frente, a
constituição de seu país, lida e explicada pelo Estado nas favelas urbanas e
em cada rincão da Venezuela, o brasileiro não tem nem idéia do que está por
trás do jogo do poder e continua acreditando na predestinação dos ricos e na
fatalidade de que padeceriam os pobres.

Enquanto isso, a cena que se vê na esquerda brasileira lembra a da orquestra
do Titanic, que tocava animadamente no convés enquanto o navio afundava.

A esquerda festiva precisa parar de festejar, de se congratular e de, não
raro, refestelar-se com dinheiro público. Urge que se dê conta de que o
poder não lhe pertence, de que lhe foi apenas delegado. Tem que começar a
semear já mudanças estruturais que impeçam que eventual volta da direita ao
poder desmonte tudo que foi feito na década passada.

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